O desenho como possibilidade
de brincar, o desenho como possibilidade de falar, de registrar, marca o
desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um caráter
próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares
em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e
sensibilidade. Esta maneira de desenhar própria de cada idade varia, inclusive,
muito pouco de cultura para cultura.
Luquet
Distingue Quatro Estágios:
1- Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos
e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos
sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e
passa a nomear seu desenho.
2- Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4
anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir
esta forma.
3- Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos
10-12 anos, caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo
que vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista
( perspectivas ).
( perspectivas ).
4- Realismo visual: É geralmente por volta dos 12
anos, marcado pela descoberta da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um
empobrecimento, um enxugamento progressivo do grafismo que tende a se juntar as
produções adultas.
Marthe
Berson distingue três estágios do rabisco:
1 - Estágio vegetativo motor: por volta dos 18
meses, o traçado e mais ou menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não
sai da folha formando turbilhões.
2 - Estágio representativo: entre dois e 3 anos,
caracteriza-se pelo aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço
continuo para o traço descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.
3 - Estágio comunicativo: começa entre 3 e 4
anos, se traduz por uma vontade de escrever e de comunicar-se com outros.
Traçado em forma de dentes de serra, que procura reproduzir a escrita dos
adultos.
Em Uma
Análise Piagetiana, temos:
1 - Garatuja: Faz parte da fase sensório motora (
0 a 2 anos) e parte da fase pré operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra
extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da
maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo
contraste, mas não há intenção consciente.
Pode ser dividida em:
·
Desordenada: movimentos
amplos e desordenados. Com relação a expressão, vemos a imitação "eu
imito, porém não represento". Ainda é um exercício.
·
Ordenada: movimentos
longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode
aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado;
interesse pelas formas (Diagrama). Aqui a expressão é o jogo simbólico:
"eu represento sozinho". O símbolo já existe.
·
Identificada: mudança de
movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribui nomes, conta
histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis,
radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.
2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase
pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e
realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não
relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo
devido a vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um
conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos.
Quanto à utilização das cores, pode usar, mas não
há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da
expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".
3 - Esquematismo: Faz parte da fase das operações
concretas (7 a 10 anos).Esquemas representativos, afirmação de si mediante
repetição flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do
esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço: linha de
base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem
desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo.
Aqui existe a descoberta das relações quanto à cor; cor objeto, podendo haver
um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na
expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.
4 - Realismo: Também faz parte da fase das
operações concretas, mas já no final desta fase. Existe uma consciência maior
do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a
superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das
linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação
das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor,
a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como no Realismo,
o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras existiram.
5-Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das
operações abstratas (10 anos em diante). É o fim da arte como atividade
espontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. Aparecem aqui
dois tipos de tendência: visual (realismo, objetividade); háptico (expressão
subjetividade) No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação com
experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as características
sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções. A consciência
visual (realismo) ou acentuação da expressão, também fazem parte deste período.
Uma maior conscientização no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão
aparece como: "eu represento e você vê" Aqui estão presentes o
exercício, símbolo e a regra.
E
ainda alguns psicólogos e pedagogos, em uma linguagem mais coloquial, utilizam as
seguintes referencias:
• De 1 a 3 anos
É a idade das famosas garatujas:
simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os limites
do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes
e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão
se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam
soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios
de figuras humanas, como cabeças com olhos.
• De 3 a 4 anos
Já conquistou a forma e seus desenhos
têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do
papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível,
com pernas, braços, pescoço e tronco.
• De 4 a 5 anos
É uma fase de temas clássicos do
desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e
animais, varia no uso das cores, buscando certo realismo. Suas figuras humanas
já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos
desenhos no papel obedece a certa lógica, do tipo céu no alto da folha.
Aparece ainda a tendência à
antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da
natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender
até 7 ou 8 anos.
• De 5 a 6 anos
Os desenhos sempre se baseiam em
roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a
criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de
não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e
capacidade de contar histórias sobre o mundo.
• De 7 a 8 anos
O realismo é a marca desta fase, em
que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão
uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes muitas deixam
de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.
Como podemos perceber a linha de
evolução é similar mudando com maior ênfase o enfoque em alguns aspectos. O
importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa
desenhar livremente, sem intervenção direta, explorando diversos materiais,
suportes e situações.
Para tentarmos entender melhor o
universo infantil muitas vezes buscamos interpretar os seus desenhos, devemos,
porém lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi
elaborado não faz sentido.
É aconselhável, ao professor, que
ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de
artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e
também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas,
objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer
o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas ideias e construir novos conhecimentos.
Enfim, o desenho infantil é um universo cheio de mundos a serem explorados.